domingo, 26 de abril de 2015

Escolha

Sê brando comigo.
Não escolhi ser assim.

Gostaria de poder dizer que sou este e aquele, mas afinal de contas, sou mesmo isso, nada.
Um nada que é um todo. Um todo cheio de vazio no seu interior.

Estou partido em vários pedaços, retalhos de uma ideia, de um pensamento.
Mas até a praia paradisíaca é composta por mil grãos de areia.

Eu não escolhi ser assim.
Não escolhi ter o reflexo que vejo na poça de água.
Não escolhi  sentir isto, ou aquilo, ou nada.
Não escolhi fechar os olhos quando não queria ver.
Não escolhi amar, nem morrer.

Não provarei a dor que há em mim.
Deixarei passar como faz uma bela espectadora

Deixarei o vento soprar, pois ele sabe para onde vai e eu não.
Deixarei a chuva molhar e lavar o tempo.

Eu não escolhi ser assim.
Um todo que é nada constantemente.
Um chorrilho de disparates com sentido,
Um novelo sem ponta ou fim, emerenhado em si próprio,
Sofucado pelo seu próprio peso,
Em toneladas de pensamentos turvos,
Outros escuros e outros ainda mais escuros.

Eu escolhi ver. Escolhi ouvir. Escolhi provar.
Escollhi fazê-lo em frente, sem que paisagens de trás me distraissem.

Quando me voltei, segui em frente.
Não deixei mais espaço ao olhar, nem ao pensar.
Porque se chorasse mais, faria oceanos.
Se pensasse mais escreveria livros.
Se me demorasse mais, não daria passos.

Eu não escolhi ser assim.

Não escolhi aceitar a dor em vez de a viver, ainda que a viva todos os dias.

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