Enquanto uso a relva como berço
para as minhas viagens entre um estado meio desperto, meio entorpecido,
encontro-me diante uma bela pintura holandesa, coberta pelos seus tons subtis
entre cinzentos e brancos que cobrem este céu de Primavera tímida, pintando
aqui e ali com o borratar de pincel que confere às nuvens um face indefinida,
amorfa, mas com um carácter celestial e angelical, tal como dois polos do mesmo
corpo celeste, fazendo destas senhoras o motivo do meu reparo inicial. Deito-me
a ostentar esta gratuita beleza e também as outras belezas – aquelas esquecidas
e apagadas pelo peso das cidades. É então que consigo perceber a dança das
cores nas telas das pinturas dos grandes artistas Holandeses; dos traços
cuidados, fluídos que cantam o som do vento rodopiante que faz avançar as nuvens,
mudando a condição atmosférica ao mesmo compasso presto usado pelo mar para fazer avançar
as suas ondas sobre o pálido areal.
Sinto a relva a tocar-me o corpo. Sinto-o como uma comunhão com a Natureza há muito perdida entre o homem e aquela que o criou. Ao deparar-me com as nuvens, compreendo também os seus movimentos que aos olhos desatentos que pelo céu passam, poderão julgar ser aleatórios, mas que com o cobrir da luz do Sol pelos seus véus brancos, num intervalo de tempo suficiente para observar todos os detalhes agora revelados pela sombra, rapidamente percebe-se que as nuvens, tal como eu e a relva que me amortece, aproximam-se timidamente umas das outras, apenas se tocando e eventualmente se fundido, se assim se sentirem dispostas ou o vento da vida o ditar. Tal como as nuvens – essas massas de ar deambulantes, aparentemente semelhantes entre si, dispostas num céu de diferentes tonalidades de azul, amorfas e indistintas – também nós nos governamos (ou somos governados) por estas regras invisíveis, tocando a massa amorfa dentro de um outro, apenas quando uma brisa mais forte de vento se faz ressoar sobre o prado verdejante, numa tarde de Sol, sobre as camas de Natureza que nos acolhem na pequena clareira verde.
É então que fecho os olhos a este mundo para a seguir abrir a um outro. Se a viagem anterior pode ter parecido interessante, a que se seguiu transforma a primeira numa experiência completamente banal. Dormitar ao sabor do som de melros, pardais, cigarras, abelhas, entre outros seres vivos, todos ocupados com o seu próprio microcosmos, com os seus fazeres preocupados e sistemáticos, permite-nos viajar para lugar incerto, sem malas, sem hora de ida ou de volta. Uma viagem que não segue as dimensões a que estamos sujeitos e projectados, onde nem o impiedoso tempo nos faz escravos e onde os limites são ilusões. Neste estado de dormência não posso viajar-me pelas nuvens, mas sê-las e pintar-me com o pincel de pêlo de boi. Pincelar-me ao tempo de tons brancos sobre o céu e fazer-me voar ao sabor do meu vento, fundindo-me e separando-me a meu bel-prazer, criando a minha própria linguagem subtil, o meu próprio admirar de um outro mundo em que as minhas asas são lágrimas do céu e os raios de sol abatem-se sobre mim numa apetitosa sensação de paz e …
É então que acordo entorpecido e confuso, pois sempre que se faz uma viagem, seja ela qual for, o acordar é seguido pelo desconforto de não se saber onde está. A luz decomposta pelos seus raios de Sol ainda me fere os olhos e é então que vejo lá em cima aquelas brincalhonas. Já não são as mesmas, agora outras, com novas formas e feitios. Poderia olhar para elas o dia todo. Apesar do sorriso imposto pelas novas, não consigo deixar de ficar triste pelas que já foram. Como gostava delas.
Sinto a relva a tocar-me o corpo. Sinto-o como uma comunhão com a Natureza há muito perdida entre o homem e aquela que o criou. Ao deparar-me com as nuvens, compreendo também os seus movimentos que aos olhos desatentos que pelo céu passam, poderão julgar ser aleatórios, mas que com o cobrir da luz do Sol pelos seus véus brancos, num intervalo de tempo suficiente para observar todos os detalhes agora revelados pela sombra, rapidamente percebe-se que as nuvens, tal como eu e a relva que me amortece, aproximam-se timidamente umas das outras, apenas se tocando e eventualmente se fundido, se assim se sentirem dispostas ou o vento da vida o ditar. Tal como as nuvens – essas massas de ar deambulantes, aparentemente semelhantes entre si, dispostas num céu de diferentes tonalidades de azul, amorfas e indistintas – também nós nos governamos (ou somos governados) por estas regras invisíveis, tocando a massa amorfa dentro de um outro, apenas quando uma brisa mais forte de vento se faz ressoar sobre o prado verdejante, numa tarde de Sol, sobre as camas de Natureza que nos acolhem na pequena clareira verde.
É então que fecho os olhos a este mundo para a seguir abrir a um outro. Se a viagem anterior pode ter parecido interessante, a que se seguiu transforma a primeira numa experiência completamente banal. Dormitar ao sabor do som de melros, pardais, cigarras, abelhas, entre outros seres vivos, todos ocupados com o seu próprio microcosmos, com os seus fazeres preocupados e sistemáticos, permite-nos viajar para lugar incerto, sem malas, sem hora de ida ou de volta. Uma viagem que não segue as dimensões a que estamos sujeitos e projectados, onde nem o impiedoso tempo nos faz escravos e onde os limites são ilusões. Neste estado de dormência não posso viajar-me pelas nuvens, mas sê-las e pintar-me com o pincel de pêlo de boi. Pincelar-me ao tempo de tons brancos sobre o céu e fazer-me voar ao sabor do meu vento, fundindo-me e separando-me a meu bel-prazer, criando a minha própria linguagem subtil, o meu próprio admirar de um outro mundo em que as minhas asas são lágrimas do céu e os raios de sol abatem-se sobre mim numa apetitosa sensação de paz e …
É então que acordo entorpecido e confuso, pois sempre que se faz uma viagem, seja ela qual for, o acordar é seguido pelo desconforto de não se saber onde está. A luz decomposta pelos seus raios de Sol ainda me fere os olhos e é então que vejo lá em cima aquelas brincalhonas. Já não são as mesmas, agora outras, com novas formas e feitios. Poderia olhar para elas o dia todo. Apesar do sorriso imposto pelas novas, não consigo deixar de ficar triste pelas que já foram. Como gostava delas.
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