quarta-feira, 5 de novembro de 2014

“Não podemos ajudar quem não quer se ajudado”

Algures no código genético, temos escrito uma parte importante que dita a nossa existência. Esta parte refere-se ao instinto de sobrevivência. Com ele, somos capazes de não só nos mantermos vivos, como em situações de maior adversidade, conseguirmos ultrapassar limites físicos ou psicológicos.

Mas quando este instinto de preservação própria falha, o que resta de nós? Ou quando não falha totalmente, mas se estilhaça em vários pedaços, que resta dele e desses pedaços? Quando alguém desiste de si próprio, os que ficam do outro lado, que podem fazer?

Ser espectador da destruição ou falta de auto-preservação de alguém que amamos é uma dor constante. Esta dor é como uma dor fantasma. Apenas com a diferença de uma progressão da perda de um membro que é tão nosso.

Depois de tudo fazermos pela pessoa, nos dedicarmos a isto e aquilo. Fazermos o aqueloutro, possível e impossível. De tentarmos salvar esta pessoa da sua própria miséria, daquele quarto escuro sem alguma luz, sabendo que somos a pouca luz que resta nesse quarto. Que mais nos resta fazer, quando a pessoa não quer ser ajudada?

É possível ajudar quem não quer ser ajudado? E qual é a quota-parte de culpa se desistirmos dessa pessoa, depois dessa pessoa ter desistido de si própria? Será possível termos forças para sermos a força de outro, mesmo depois de ser desprezada a nossa ajuda, esforço, compreensão? Qual é a medida de compreensão pelo outro que está mal, a medida do esforço, das soluções, das horas, das lágrimas que nos pode indicar o limite de tudo isto? Que devemos fazer quando infligimos dano a nós próprios, tentando salvar os outros do seu próprio dano?

A salvação de alguém passa por esse alguém. Julgo que não podemos fazer alguém interessar-se por si próprio ou pelo mundo que o rodeia, por mais ajuda e amor que daremos ou tenhamos a essa pessoa.



Quando se atinge o limite, desiste-se, estarei eu a fazer bem?

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