Algures no código genético, temos escrito uma parte
importante que dita a nossa existência. Esta parte refere-se ao instinto de sobrevivência.
Com ele, somos capazes de não só nos mantermos vivos, como em situações de
maior adversidade, conseguirmos ultrapassar limites físicos ou psicológicos.
Mas quando este instinto de preservação própria falha, o que
resta de nós? Ou quando não falha totalmente, mas se estilhaça em vários
pedaços, que resta dele e desses pedaços? Quando alguém desiste de si próprio,
os que ficam do outro lado, que podem fazer?
Ser espectador da destruição ou falta de auto-preservação de
alguém que amamos é uma dor constante. Esta dor é como uma dor fantasma. Apenas
com a diferença de uma progressão da perda de um membro que é tão nosso.
Depois de tudo fazermos pela pessoa, nos dedicarmos a isto e
aquilo. Fazermos o aqueloutro, possível e impossível. De tentarmos salvar esta
pessoa da sua própria miséria, daquele quarto escuro sem alguma luz, sabendo
que somos a pouca luz que resta nesse quarto. Que mais nos resta fazer, quando
a pessoa não quer ser ajudada?
É possível ajudar quem não quer ser ajudado? E qual é a quota-parte
de culpa se desistirmos dessa pessoa, depois dessa pessoa ter desistido de si
própria? Será possível termos forças para sermos a força de outro, mesmo depois
de ser desprezada a nossa ajuda, esforço, compreensão? Qual é a medida de
compreensão pelo outro que está mal, a medida do esforço, das soluções, das
horas, das lágrimas que nos pode indicar o limite de tudo isto? Que devemos
fazer quando infligimos dano a nós próprios, tentando salvar os outros do seu
próprio dano?
A salvação de alguém passa por esse alguém. Julgo que não
podemos fazer alguém interessar-se por si próprio ou pelo mundo que o rodeia,
por mais ajuda e amor que daremos ou tenhamos a essa pessoa.
Quando se atinge o limite, desiste-se, estarei eu a fazer
bem?
Nenhum comentário:
Postar um comentário