terça-feira, 28 de junho de 2016

Saudade, talvez

Seria mentira dizer que o sopro da vida me abandonou,
que o verde do jardim enfraqueceu depois das nossas Primaveras,
ou que o mar já não é salgado pelas lágrimas que verti nele em desespero de ti.
Mas eu sei que o meu sorriso nunca mais foi o mesmo.
Provavelmente estará também com o meu calmo sono
, que hoje, pouco ou nada me visita.

Tal como em qualquer inverno me pergunto se a Primavera virá,
pergunto-me também se algum dia virás devolver-me aqueles anos.
Talvez, de facto, sejamos como 
Psyche e Cupido,
ou talvez não, pois nem sequer coragem de aceder a vela tenho.

Desde então
, apenas vagueio dentro de mim mesmo.
Mais um ano e outro insuportável Outono que passa.
Pelo menos antes tinha algo para festejar para além dos (teus) tons castanhos.
Agora só as nuvens me acompanham
, chorando por mim.

Seria tolo dizer que ainda te amo, pois o amor não é eterno
Mas seria ainda mais tolo dizer que já não sinto amor.
Talvez o que queria dizer é que tenho saudades tuas.
Se não tivesse cosido a boca, dir-te-ia, com um sorriso.
Mas a vida obriga-me a sussurrar e eu sei que não ouvirás.

Despeço-me, com um sorriso.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tão bela a tua escrita. Só por si, vale a pena vir aqui ler-te, de tempo a tempo, por isso. Mas, tens-me inspirado a começar a escrever, mal ou bem, sem que pese na equação a questão de encontrarem os textos que escrevo e, com isso, terem acesso à minha caixa pensante. Exorcizar.
"Em 23 anos nunca vim aqui sozinho. Choro mal entro, não por nenhuma pessoa que aqui jaz. Choro até chegar ao seu assento. Ouve-se a pá do coveiro a amaciar e preparar a terra a espaços ritmados e inconstantes, uma cantilena em género de ladainha ao fundo, pássaros a chilrar nos ciprestes. Sente-se o vento marítimo. Venho a um dos sítios onde enterram pessoas. Devolvê-las ao que lhes pertence. Enterrar para viver. Eu venho simbolicamente enterrar um sentimento. A este cemitério específico. O assento das ossadas do Manuel. Pedir-lhe, ridículo por si só, que aceite e conserve no mundo das coisas que não podem ser vividas, por via da morte e da vida, esta paixão bela e maldita. Ajuda-me Manel a enterrá-lo. Na morte existe vida. Agora que catarticamente consegui enterrar o sentimento, resta-me fazer o luto no dia-a-dia."

Unknown disse...

Rodrigo fico muito feliz por let o teu comentário. Apesar de o ler com um ano de atraso, leio-o com muita alegria por poder partilhar contigo a minha escrita ou, aliás, os meus sentimentos. Espero que continues a escrever muito também tu sobre os teus sentimentos. Enterra-os e desterra-os. Encontra-os e não os exorcizes. O pior que podemos fazer é sofrer porque sofremos. Soframos na alegria de que somos ser sensíveis.