domingo, 15 de janeiro de 2012

Assim se passa uma infância


O tempo corre mais rápido do que seria de esperar. Quando somos pequenos passamos tardes deitados na alcatifa de casa dos nossos avós a brincar com uma nave intergalática preta que viaja pelo espaço a velocidade da luz e dispara contra bases espaciais. Na verdade, o comando e o sofá continuam lá, mas a nave e a base espacial não. O tempo voa mais rápido que qualquer viagem intergalática. Os anos passam por nós sem darmos conta.
Consigo recordar todos os sonhos de criança que passei naquela casa. Consigo lembrar-me da magia da imaginação. Da felicidade de cada momento. De como aquela, agora, pequena casa parecia gigante. Sempre com segredos e mistérios por desvendar. Das conchas que não se podiam tocar. Do marfim por debaixo do sofá. Do chifre de rinoceronte. E de todas as esculturas com olhos fixados em nós a todo o momento.
Quando chegava a casa dos meus avós, a primeira coisa que fazia era descalçar-me. Talvez por isso é que hoje me sinto tão bem descalço. Livre dos sapatos, livre de tudo.
E não é a minha infância perdida, mas sim a minha infância ganha. Hoje consigo ver tudo o que ganhei, tudo o que aprendi com os meus avós. De todas as manhãs que passei no atelier do meu avô a criar, imaginar, sob o som das notas de alguma soprano que logo começava a cantar assim que se ligava o quadro da electricidade. Lembro-me das tintas, dos azulejos, do barro, sim do barro e também do macacão e da casa-de-banho pequenina que não sei bem porquê, me faz sorrir.


Fui feliz. Obrigado avós.

2 comentários:

Folhas soltas disse...

Que lindo texto, David... Mais um dos meus meninos que me deixa sem palavras.

Folhas soltas disse...

Que lindo texto, David... Mais um dos meus meninos que me deixa sem palavras.