Há sentimentos que eu não sei explicar. Um deles, que talvez seja aquele que mais me assalta e que eu o identifico sem identificar é o que eu chamo de “Amor à música”.
Os sentimentos têm a potencialidade de nos deixar noutro sitio, noutro lugar qualquer.
Estes são tão profundos que quando os sentimos, passámos a ter uma palete de novas sensações captadas pelos sentidos, cheiramos música, pensamos música, saboreamos música como que se as notas fossem cheiráveis, comestíveis, palpáveis e visíveis. É toda uma nova imagem que continua transparente aos olhos de que não a está a experimentar.
Um dia, entrei no conservatório do Porto. Antes de entrar no antigo edifício, consegui ouvir o som de vários instrumentos a atropelarem-se e precipitarem-se numa corrida de tonalidades. Ao entrar, o som, deixou de ser som. Era como se visse os vários timbres pintados de várias cores diferentes. Como que se o cheiro do saxofone que cantava fosse diferente do violino. Mas não eram só os instrumentos. As paredes velhas, a descascar a tinta, falavam entre si, espalhando a música de gerações. As escadas de madeira que rangiam faziam passar a ideia da vida que aquele labirinto de paredes guardava. As luzes transbordavam música, vida. Tudo naquele hall era música. Vive música.
E foram poucas as vezes que isto acontece, a vez seguinte a essa, terá sido quando entrei na escola onde aprendo violino. Um edifício tristinho e sem vida, de paredes verdes e brancas (na altura todas brancas) com 4 salas e pouca disposição. Nesse dia, ia jurar que haviam partituras pintadas nas paredes; estátuas gloriosas com alusão a árias famosas; cores magníficas, nunca antes vistas.
Estes sentimentos profundos, que tocam no Eu, são folias, são a forma mais pura de sentir. Como dizia Álvaro de Campos “Sentir tudo de todas as maneiras” num só corpo, numa só pessoa.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
A Música sentida
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5 comentários:
De todas as actividades humanas, a música é aquela que mais nos transporta para um outro mundo. Depois de ouvir a segunda sinfonia do Mahler todo um novo mundo se abriu. A minha maior inveja é não ter música dentro de mim, ser capaz de compor. Para quê palavras quando se pode ouvir o Für Alina, do Pärt?
Ah, a música, abre-nos um universo para lá do nosso horizonte e, contudo, sempre tão perto.
Como te compreendo!
*
Para ti:
http://www.youtube.com/watch?v=RRMz8fKkG2g
A música que entra pelos poros, se agarra à roupa e nos sai pelo bafo.
Qual fumo de cigarro amado, ela nos dedos, brincando com o nosso sentir.
A música, sempre a música a colorir o triste.
Só o triste?
Tiago, essa música é absolutamente deprimente. Ouço-a quando estou na minha fase decadentista da semana :P
Fica aqui uma música que lembra música: http://www.youtube.com/watch?v=oKvG0RU4_fI&feature=PlayList&p=3337112F29BC150D&playnext_from=PL&playnext=1&index=1
Tem de pôr o som muito alto e reparar bem na parte do violino a solo, que é muito bonita!
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