segunda-feira, 17 de maio de 2010

Amour

Dois corpos encontram-se atraídos pelas leis da física.
O meu corpo encontrou o teu, qual atracção de um pólo que precisa do outro, atraíram-se até se unirem num perfeito encaixe de tudo.
O amor são leis físicas que governam a metafísica. É estranho que tudo o que até então nos parece razoável passe a ser exagerado e vice-versa. Quem ama, teme, não por si, pelo o outro. É uma entrega. É uma entrega sem garantias de retorno. Dá-se de mão beijada o que de mais precioso se tem, que a meu ver, é o nosso corpo. Um bem que vem à nascença e que fica connosco até aos últimos dias de existência.
Passava a minha vida naquela cama, passava-a a olhar-te, a respirar-te. Um dia é uma hora quando se assim está.
Entre os lençóis amarrotados pela fúria de uma noite, misturam-se corpos, sensações, paixões, olhares.
Dormir e (re)dormir sobre a noite, passando pelo dia e voltando a noite. Passa um dia.
E lá fico eu, a olhar.
O amor deixa-nos indefesos, mostra-nos o ridículo, envergonha-nos. É por assim dizer, cruel. Mas aqui estamos nós, abraçamos o amor. Porque…haverá sensação melhor do que a noite que passa a dia que passa a noite, numa cama?

15-05-10

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A Música sentida

Há sentimentos que eu não sei explicar. Um deles, que talvez seja aquele que mais me assalta e que eu o identifico sem identificar é o que eu chamo de “Amor à música”.
Os sentimentos têm a potencialidade de nos deixar noutro sitio, noutro lugar qualquer.
Estes são tão profundos que quando os sentimos, passámos a ter uma palete de novas sensações captadas pelos sentidos, cheiramos música, pensamos música, saboreamos música como que se as notas fossem cheiráveis, comestíveis, palpáveis e visíveis. É toda uma nova imagem que continua transparente aos olhos de que não a está a experimentar.
Um dia, entrei no conservatório do Porto. Antes de entrar no antigo edifício, consegui ouvir o som de vários instrumentos a atropelarem-se e precipitarem-se numa corrida de tonalidades. Ao entrar, o som, deixou de ser som. Era como se visse os vários timbres pintados de várias cores diferentes. Como que se o cheiro do saxofone que cantava fosse diferente do violino. Mas não eram só os instrumentos. As paredes velhas, a descascar a tinta, falavam entre si, espalhando a música de gerações. As escadas de madeira que rangiam faziam passar a ideia da vida que aquele labirinto de paredes guardava. As luzes transbordavam música, vida. Tudo naquele hall era música. Vive música.
E foram poucas as vezes que isto acontece, a vez seguinte a essa, terá sido quando entrei na escola onde aprendo violino. Um edifício tristinho e sem vida, de paredes verdes e brancas (na altura todas brancas) com 4 salas e pouca disposição. Nesse dia, ia jurar que haviam partituras pintadas nas paredes; estátuas gloriosas com alusão a árias famosas; cores magníficas, nunca antes vistas.
Estes sentimentos profundos, que tocam no Eu, são folias, são a forma mais pura de sentir. Como dizia Álvaro de Campos “Sentir tudo de todas as maneiras” num só corpo, numa só pessoa.