Quantos jogos de verdade e mentira fazemos, tal e qual como um jogo de
xadrez connosco próprios, para nos cegarmos de uma verdade mais difícil de
acreditar?
Será que podemos dominar racionalmente o coração? Somos senhores da nossa razão, soberana sobre os sentimentos que nos assolam e nos consomem num crescendo de agonia e pavor face à impotência de sermos incapazes de domar esse tão selvagem animal que facilmente se desprende das correntes da racionalidade que tão bem arquitectadas foram?
Ficamos eternamente presos aos prazeres que outrora sentimentos, de tal forma encruzilhados numa teia sem fim de sentimentos, agarrados à nossa memória por raízes mais fortes que centenárias árvores que testemunharam o passar dos tempos pacientemente percorrendo todas as primaveras e invernos, das mais belas aos mais rigorosos, respectivamente, que parece já não sabermos o sabor destes. Passamos a associar os tão estimados prazeres às memórias daquela pessoa, ou daquele tempo em que a Luz era mais clara e a Escuridão menos arrebatadora. Porque o amor tem o poder de nos fazer ver este mundo com mais ânimo, que por vezes se apresenta tão desfocado e desprovido de cor, que a ideia de o vivermos todos os dias nesta solidão de alma é mais aterradora que a própria morte.
É então que mergulho no ridículo de pensar de mim para mim naquela rua, naquela roda-gigante, naquela música sem sequer ter oportunidade de prender de novo o indomável animal que teima em se escapar por entre os interstícios de mim mesmo. O amor é um vírus que nos consome os nutrientes na sua fase proliferativa, deixando-nos embriagados num febre temporária, até esta desaparecer e ficarem os resquícios dos seus competentes e finalmente cair na dormência, ou seja, sem nunca sair do nosso corpo. De tempos em tempos, como um vulcão pensado extinto, volta para nos assombrar o sistema imunitário.
No entanto, após visitar lugares que se cristalizaram na minha mente como sagrados e grandes pedaços de um sentimento, igual àquele amigo que não desejo rever, apercebo-me que já não são os mesmos. Que os mesmo lugares são agora outros disponíveis a novas memórias e que o que, tal como no famoso cemitério dos famosos, o Père-Lachaise, onde já não se encontram as pessoas, mas sim um pedaço quase invisível do que elas foram, chega-se à conclusão que a ansiedade de reencontrar estes lugares rapidamente se apaga com um sopro como a chama de uma vela ao dormer. E, na verdade, tal como a ansiosa espera de sentirmos algo com as campas daqueles que admirados, sentimentos nestes locais outrora cristalizados exactamente isso, nada. E hoje esses mesmos sentimentos que se apresentavam como os próprio Atlas do nosso parasita sentimental, da nossa obsessão pelo um passado que foi perfeito, são hoje apenas túmulos, estátuas, raízes e pedaços de pedra abandonados num lugar que já não é o mesmo. Fico aliviado por saber que o tempo, tal como a Justiça, tem os olhos vendados, castigando imparcialmente. Consigo ver as cicatrizes que carrego na cara desses sentimentos que tão estimáva e penso: quando é que eu me dediquei a amar tanto isto? Afinal, de facto, o amor e os seus sentimentos são passagens regularmente acompanhadas de delírios da nossa percepção, fotografias tiradas com os olhos durante uma viagem de comboio em que os pormenores se apresentam indistintos e desfocados pela velocidade da viagem. Voltando atrás aquele tempo vejo o quão ignorante era e isso faz-me lembrar duas coisas: o quanto cresci e me expandi como um gás compresso numa pequena botija e quanta ignorância tenho ainda a perder até ao fim da minha vida. Ai que vontade de ver todos os pores do Sol, de acompanhar o principezinho na sua viagem pelos planetas e poder sentar-me e levanter-me para ir vendo um constante pôr do sol no seu planeta. Que liberdade!
Será que podemos dominar racionalmente o coração? Somos senhores da nossa razão, soberana sobre os sentimentos que nos assolam e nos consomem num crescendo de agonia e pavor face à impotência de sermos incapazes de domar esse tão selvagem animal que facilmente se desprende das correntes da racionalidade que tão bem arquitectadas foram?
Ficamos eternamente presos aos prazeres que outrora sentimentos, de tal forma encruzilhados numa teia sem fim de sentimentos, agarrados à nossa memória por raízes mais fortes que centenárias árvores que testemunharam o passar dos tempos pacientemente percorrendo todas as primaveras e invernos, das mais belas aos mais rigorosos, respectivamente, que parece já não sabermos o sabor destes. Passamos a associar os tão estimados prazeres às memórias daquela pessoa, ou daquele tempo em que a Luz era mais clara e a Escuridão menos arrebatadora. Porque o amor tem o poder de nos fazer ver este mundo com mais ânimo, que por vezes se apresenta tão desfocado e desprovido de cor, que a ideia de o vivermos todos os dias nesta solidão de alma é mais aterradora que a própria morte.
É então que mergulho no ridículo de pensar de mim para mim naquela rua, naquela roda-gigante, naquela música sem sequer ter oportunidade de prender de novo o indomável animal que teima em se escapar por entre os interstícios de mim mesmo. O amor é um vírus que nos consome os nutrientes na sua fase proliferativa, deixando-nos embriagados num febre temporária, até esta desaparecer e ficarem os resquícios dos seus competentes e finalmente cair na dormência, ou seja, sem nunca sair do nosso corpo. De tempos em tempos, como um vulcão pensado extinto, volta para nos assombrar o sistema imunitário.
No entanto, após visitar lugares que se cristalizaram na minha mente como sagrados e grandes pedaços de um sentimento, igual àquele amigo que não desejo rever, apercebo-me que já não são os mesmos. Que os mesmo lugares são agora outros disponíveis a novas memórias e que o que, tal como no famoso cemitério dos famosos, o Père-Lachaise, onde já não se encontram as pessoas, mas sim um pedaço quase invisível do que elas foram, chega-se à conclusão que a ansiedade de reencontrar estes lugares rapidamente se apaga com um sopro como a chama de uma vela ao dormer. E, na verdade, tal como a ansiosa espera de sentirmos algo com as campas daqueles que admirados, sentimentos nestes locais outrora cristalizados exactamente isso, nada. E hoje esses mesmos sentimentos que se apresentavam como os próprio Atlas do nosso parasita sentimental, da nossa obsessão pelo um passado que foi perfeito, são hoje apenas túmulos, estátuas, raízes e pedaços de pedra abandonados num lugar que já não é o mesmo. Fico aliviado por saber que o tempo, tal como a Justiça, tem os olhos vendados, castigando imparcialmente. Consigo ver as cicatrizes que carrego na cara desses sentimentos que tão estimáva e penso: quando é que eu me dediquei a amar tanto isto? Afinal, de facto, o amor e os seus sentimentos são passagens regularmente acompanhadas de delírios da nossa percepção, fotografias tiradas com os olhos durante uma viagem de comboio em que os pormenores se apresentam indistintos e desfocados pela velocidade da viagem. Voltando atrás aquele tempo vejo o quão ignorante era e isso faz-me lembrar duas coisas: o quanto cresci e me expandi como um gás compresso numa pequena botija e quanta ignorância tenho ainda a perder até ao fim da minha vida. Ai que vontade de ver todos os pores do Sol, de acompanhar o principezinho na sua viagem pelos planetas e poder sentar-me e levanter-me para ir vendo um constante pôr do sol no seu planeta. Que liberdade!